Crônicas

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Ato VI
- Por Tassis Frois
A comitiva se alongava próximo às árvores que limitavam o horizonte entre o céu nublado, e as florestas, descampados e clareiras que podia-se ver ao longo daquela paisagem. Não apenas o céu estava cinza, mas o meu humor, o dia, as casas, os muros... a vida. Lembrar que, numa daquelas carruagens estava o futuro marido de minha Glória, era um terrível pesadelo que me assolava acordado. Mas meus pensamentos não poderiam ser envoltos à isto apenas.

Um grande perigo se aproximava, e com o fim das investigações ficou-se claro que Lord Berkut era um grande traidor. A guilhotina o serviu bem, não apenas à ele, mas todos de sua linhagem e círculo de amizade. Muitos deles jurando que não estavam em conluio com o oportunista, mas foram pegos mentindo sempre.

Ao menos, como recompensa, meu pai foi agraciado com todas as posses daquele ser desprezível, que nem mesmo aos empregados e servos tinha algum zelo. Até mesmo uma Estátua ergueram para homenagear ao meu pai, e finalmente construíram uma Capela para que ele pudesse ensinar algo bom àquelas pessoas.

Ao que parece eu também, agora, sou um ser distinto, já que a honraria à mim veio por tabela (apesar de eu ser o grande responsável pela descoberta) dando-me algum título Nobre, que pouco importa-me, já que este pedaço de fim de mundo não tem ligação alguma a nada, e é apenas um velho bastião, que fora deixado sem cerco, por não representar nenhum tipo de perigo, já que os soldados que encontramos aqui, nunca tiveram um Treinamento Intenso com algum Grão-Mestre, outrossim Mercadores armados em sua maioria, e nada além disto.

Ao menos era isto, até a nossa chegada neste lugar. Faz um pouco mais que três meses, e os Oficiais que meu pai instituiu estão dando uma cara de exército àqueles Mercadores. Sargentos, Tenentes, Capitães; uma hierarquia militar foi formada em tempo recorde naquele lugar, mas ainda assim era um pedaço de fim de mundo sem ligação a nada.


Mas enfim chegavam. Carros, cavalos, baús, muita gente e em sua maioria homens, o que destoava à aparência amigável da tal comitiva. O tal príncipe nem imaginava o que ocorrera, já que seu traslado até a vila demorou justamente os quase três meses de investigação até chegarmos ao Berkut.

Meu pai, como sempre tratava a todos com seu jeito cordial, mas seu olhar era grave. Grave e imponente o suficiente para todos desviarem os olhos dos seus e não o fitarem face a face.

O tal príncipe logo perguntou pelo infeliz do Berkut, sendo prontamente respondido o que nós acordamos falar. Que ele havia ido em viagem de negócios para Rezben, um condado próximo à uma das mais ricas áreas de mineração de ferro de todo o reino. Mas logo de pronto, perguntou também sobre sua futura esposa, o mesmo recebeu respostas vazias, o que muito me surpreendeu, já que eu esperava ouvir que sua futura esposa o aguardava para banquetes, chás, bailes e essas frescuragens de nobreza. Minha Glória... por ela eu participaria dessas frescuragens, lutaria em mil batalhas com espada em riste, daria a minha vida.

Ao passar do dia, e com todos seguindo às suas acomodações no Edifício Principal daquele lugar, o príncipe começou colocar vários defeitos à vila. Desde sobras, à faltas. Nada estava bom para ele, e olhava para todos como se dentro de instantes fosse mudar tudo naquele local para seu jeito.

Até que ele foi até A Praça. Uma grande estátua erguida franziu-lhe o cenho. Mais ainda foi ver as colcheiras e arreios, juntamente às pequenas casernas de lona com bandeirolas ornadas de formas diferentes.

- É isto um Ponto de Encontro de Tropas, Ivarov? - perguntou em tom ríspido e tentando ser suficientemente intimidador.
- Isto é sim um Ponto de Encontro Majestade. Soubemos de sua visita e queríamos alojar os possíveis militares que acaso o acompanhassem, de forma que eles não perdessem seus hábitos de guarda e treinamento. - retrucou o gordo. Ao menos parecia hábil para esquivar-se das palavras, já que sua forma física o fazia incapaz de mover-se em caso de combate ou necessidade.

E realmente era, mas não para as tropas do De Varson. Apesar de não termos quartéis, meu pai fez questão de elevar o nível de treinamento daqueles homens à algo superior. Uma Ordem Régia de Cavaleiros Templários, como ele o era em seus tempos de guerra, reunindo antigos Templários que viviam praticamente escondidos por entre as vielas e becos daquele local, tocando uma vida simples e humilde, apesar das posses, para tentar se esconder de algo, ou alguém.

Este foi o grande ato de meu pai. De fato, seus conhecimentos com os hábitos, tratos, gestos, palavras e jeitos da antiga Ordem dos Templários o fez reconhecer cada um dos verdadeiros guerreiros daquele local, apenas com poucos minutos de conversa, ou muitas das vezes nem isto. Um aceno, um aperto de mãos, um abraço ou o próprio andar. Meu pai conhecia aquilo tudo!

Logo, um grande Salão foi construído, onde as reuniões da Sacra Ordem se faziam frequentes, e muitos dos antigos guerreiros que juraram um dia lealdade ao Pai Dele, agora estavam comungando reunidos. E o que era mais interessante nisso tudo, é que apesar da idade avançada de muitos, estes estavam diariamente treinando, como que para uma batalha sem precedentes. Como se fossem enfrentar ao menos o dobro de seus números.


- E onde minha bela pretendida está, Ivarov?

- Breve verá, Majestade... muito em breve verá tudo que temos preparado para seu cortejo.

Continua...
 
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